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José Henrique Nunes Barreto – economista e diretor da Fiesp
   
     
 


22/09/2009

José Henrique Nunes Barreto – economista e diretor da Fiesp
O imobilismo do SENAI diante da globalização

Na década de 90, com a possibilidade maior de internacionalização das relações empresariais, o mercado começou a exigir mais eficiência e eficácia das empresas. No Brasil, a formação da mão-de-obra deixou de ser uma necessidade a ser suprida pela sociedade e passou a ser uma função estratégica da empresa. Surgiram as Universidades Corporativas e expandiram-se as vagas nas universidades tradicionais.

A racionalização dos processos industriais forçou a redução da mão-de-obra e, conseqüentemente, diminuiu a contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Para alguns, esta diminuição fez com a entidade buscasse novas fontes de receita, passando a cobrar para ministrar cursos e treinamentos. Era, segundo alguns, uma preparação para que a contribuição obrigatória deixasse de existir. A busca da “sustentabilidade” econômica foi transformada em mote. Porém, em paralelo a isso, foram extintas as pesquisas sobre o mercado industrial, que eram consideradas como custo fixo e desnecessário. Em contrapartida, esta decisão coroa uma fase da entidade marcada por não se adaptar mais às necessidades das empresas, tornando-se imobilizada e pouco ativa. Enquanto alguns setores estavam se mudando para outros locais e novos segmentos estavam sendo criados, a rede Senai se mantinha fixa, preocupando-se apenas com uma expansão tímida.

O problema maior, porém, é a abertura de vagas de ensino profissional para carreiras que não existem mais na região da escola. Formaram-se desempregados. Por exemplo, em São Bernardo do Campo existe uma escola técnica de cerâmica, porém, o setor não tem mais empresas na região do ABC. Hoje, estas companhias estão no eixo Mogi Guaçu, Porto Ferreira e Santa Gertrudes, em São Paulo. No setor da construção civil, uma única escola está localizada na cidade de São Paulo. Ao contrário de outros setores, a construção civil não tem uma localização direcionada. Uma única escola não atenderá ao setor nem chamará a atenção dos principais empresários e empregados. Nas décadas de 70 e 80, os cursos eram feitos na própria obra, voltados para as necessidades específicas do empreendimento. Porém, a estrutura deste tipo de atendimento foi descontinuada.

A opção pela centralização do atendimento, no caso da construção civil, mostra o total desconhecimento atual por parte do Senai sobre a estrutura do setor. Cerca de 90% das empresas possuem menos de 30 empregados e a média de empregados por companhia é de 14,7 pessoas. Mesmo considerando os 7% das corporações com mais de 30 empregados, estas atingem a média de apenas 140 pessoas por empresa. Assim, pelo tamanho reduzido, fica difícil retirar funcionários da obra ou da linha de produção para serem isolados em treinamentos localizados a longa distância. O ideal é que a escola vá à obra, ou seja, que siga-se a opção das décadas de 70 e 80, que foi descontinuada.

Estes dois casos mostram que falta ao Senai uma visão estratégica e a capacidade de adaptação às novas necessidades dos setores industriais. É o imobilismo que caracteriza a entidade diante dos novos desafios. Este imobilismo faz os empresários se afastarem da instituição, os indivíduos deixarem de frequentar cursos e, como resultado, começa-se a questionar a validade de se ter a contribuição para manutenção do sistema.

Os recursos do Senai são altos e os resultados pequenos em relação ao tamanho destes recursos. Somente na Construção Civil, a massa de recursos envolvidos é da ordem de R$ 155 milhões por ano, ou seja, 1% da massa salarial da construção civil em 2005. Um cálculo simples indica o que poderia ser feito com este dinheiro. Primeiramente, parte destes recursos deveria ser utilizada para a formação de novos profissionais. Imaginando que um profissional tenha a vida útil de 25 anos, a taxa de renovação deveria ser de 1/25 dos profissionais, ou seja, 4% dos trabalhadores do setor. Além dessa renovação, deve-se considerar um crescimento do mercado, que adotaremos como sendo 5% em média conservadora. Assim, 9% da mão-de-obra deveria ser formada por ano. Outro ponto a ser considerado é que 90% da formação de profissionais é feita por cursos de curta duração, ou seja, por volta de 100 horas; e 10% por cursos de longa duração, em torno de 1600 horas. Os cursos de curta duração possuem turmas de 16 pessoas e os cursos de longa duração têm turmas de 32 estudantes.

Combinando os números anteriores, o número de profissionais a serem formados deve ser de 125 mil em cursos de curta duração e de 14 mil em cursos de longa duração. Supondo que apenas 80% das vagas sejam efetivamente utilizadas, deve-se estabelecer cerca de 9.800 turmas de curta duração e 540 turmas de longa duração.

Supondo um custo horário de R$ 60 para cursos de curta duração e R$ 90 para os cursos de longa duração, o custo total é de cerca de R$ 137 milhões. O Senai, porém, não pode se concentrar apenas na formação inicial, mas deve dirigir-se para a formação continuada. Supondo que cada empregado participe de um curso de 40 horas, com turmas de 16 alunos, a cada dois anos, pode-se treinar 52 mil pessoas por ano, em 3,3 mil turmas. Assim, o custo envolvido é cerca de R$ 8 milhões por ano. Todo este atendimento teria um custo de R$ 145 milhões por ano e uma receita de cerca de R$ 155 milhões , restando R$ 10 milhões por ano para cobrir despesas indiretas.

Se toda esta estrutura é viável sem a cobrança, por qual motivo se cobra? As despesas indiretas do Senai são altas. Por exemplo, no Departamento Regional de São Paulo, a estrutura possui sete níveis hierárquicos enquanto empresas semelhantes já reduziram estes níveis. Além deste elevado número, há a estruturação de sedes com profissionais em demasia e a falta de autonomia das escolas, gerando um sistema de controle pesado e arcaico que não permite à escola atender plenamente ao setor industrial a ela destinado.

Enfim, o Senai deixou de se basear em dados para estruturar-se. Cursos sem demanda, escolas mal localizadas e decisões baseadas na vontade pessoal dos dirigentes são comuns na instituição. Soma-se a isso o excesso de burocracia, decisões centralizadas, aumento nos custos indiretos e, conseqüentemente, falta de recursos para se atingir os resultados que satisfaçam empresários e população.

Quem conheceu o Senai do passado sente saudade daquele que um dia já foi um valioso instrumento da política industrial e que, principalmente, contribuiu para o progresso do Brasil.

Fonte: Planin Assessoria de Imprensa
Autor: José Henrique Nunes Barreto
Revisão e edição: Jaqueline Crestani

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