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Dólares, dólares e mais dólares
   
     
 


26/09/2009

Dólares, dólares e mais dólares
Crescimento econômico robusto melhora na percepção do risco e investimentos das empresas atraem mais US$ 25 bilhões ao País até dezembro


MONTAGEM SOBRE FOTO DE SHUTERSTOCK
O banqueiro espanhol Emilio Botín, do Santander, planeja emissão de R$ 15 bilhões no Brasil para emprestar mais

 

É terça-feira, 22 de setembro, e o Bradesco acaba de fechar uma captação de US$ 750 milhões no mercado internacional. Norberto Barbedo, vice-presidente responsável pelo BBI, o braço de investimentos do grupo, telefona para a Cidade de Deus e dá a notícia ao presidente do conselho de administração, Lázaro de Mello Brandão. Luiz Carlos Trabuco, o presidente da diretoria, está fora da matriz e recebe a informação em seu BlackBerry, por e-mail. Os três estão felizes com o sucesso da operação, que reforça o capital e a capacidade de empréstimos do banco a um custo baixo: 6,75% ao ano, por dez anos. O Bradesco queria levantar US$ 500 milhões, mas a demanda foi tão forte - as ofertas de investimento no papel chegaram a US$ 3,4 bilhões - que o valor final subiu 50%. "O mundo inteiro está comprando o Brasil", disse Barbedo à DINHEIRO. No mesmo dia, em Nova York, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, recebe uma ligação da Moody's, uma das principais empresas de classificação de risco do mundo. Quando chega ao escritório da agência, no World Trade Center, Mantega ganha de presente uma garrafa de champanhe. Não era preciso dizer mais nada. O Brasil estava sendo promovido, em plena crise, ao grau de investimento. "Eles enxergaram que o Brasil tem hoje todas as condições de um país credor e não devedor", disse Mantega à DINHEIRO (leia sua entrevista à página 34). Somados, os dois fatos são o retrato eloquente de um país que, definitivamente, deixou a crise para trás. E que poderá receber, no último trimestre do ano, uma avalanche de dólares.

"Entramos num novo ciclo"
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, falou à DINHEIRO sobre o grau de investimento concedido pela Moody's e a reunião do G-20, em Pittsburgh.

DINHEIRO - Qual o significado desse novo selo de grau de investimento? 
MANTEGA -
 Significa que hoje o Brasil oferece um crescimento mais vigoroso que os demais países, uma inflação baixa e todas as condições de um país credor e não devedor. A bolsa brasileira foi a que mais cresceu em dólares este ano. O País oferece segurança, rentabilidade e um mercado interno em plena expansão.

DINHEIRO - Quais são as perspectivas daqui para a frente no que diz respeito aos investimentos no País? 
MANTEGA -
 O Brasil tem apresentado um desempenho melhor que o dos demais países. Haverá um novo ciclo de desenvolvimento logo em 2010, pois fomos os primeiros a sair da crise.

DINHEIRO - Na reunião do G-20, está em discussão como os principais afetados pela crise vão pagar a conta daqui pra frente? 
MANTEGA -
 O medo está superado. A grande diferença hoje é que as medidas para combater a crise e a coordenação do G-20 restabeleceram a confiança no mercado. Uma das propostas é tornar o grupo uma instituição permanente de chefes de Estado que se reunirá à semelhança do G-8 e com pelo menos três reuniões dos ministros da Fazenda. Vai ser a instituição multilateral mais importante do mundo, superando o G-8. A segunda questão é implementar a consolidação da regulação financeira. Devemos celebrar um acordo de controle das instituições, reduzindo o estímulo para as atividades especulativas e acabando com os bônus elevados. Concordamos em limitar os bônus.

Estima-se que até dezembro pelo menos mais US$ 25 bilhões entrem no País. "E será um capital de melhor qualidade", disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que também concedeu entrevista à DINHEIRO (leia na pág. ao lado), numa referência a tempos as enxurradas de dólares tinham caráter meramente especulativo e escapavam diante do primeiro susto. O cenário hoje é outro. Destes US$ 25 bilhões, pelo menos US$ 10 bilhões serão novos investimentos diretos. A Mercedes-Benz, por exemplo, reservou US$ 830 milhões para ampliar sua produção de caminhões. O Carrefour aprovou mais de US$ 500 milhões num plano de abertura de novas lojas. E mesmo empresas que foram duramente afetadas pela crise internacional estão sendo beneficiadas pelo novo cenário cambial - a Fibria, fruto da fusão entre VCP e Aracruz, deve vender por US$ 1,5 bilhão a um grupo chileno uma fábrica de celulose no Rio Grande do Sul. "O selo da Moody's, que era o último que faltava para a economia brasileira, vai atrair empresas e fundos que ainda não estavam atentos ao dinamismo da economia brasileira", avalia Luiz Afonso Lima, presidente da Sobeet, entidade que estuda o comportamento das multinacionais no Brasil.

Um outro pedaço relevante dos dólares previstos para ingressar no Brasil no último trimestre virá na forma de investimentos estrangeiros na Bolsa de Valores de São Paulo, que já subiu 109% neste ano e foi a que mais se valorizou no mundo. Fundos internacionais, que haviam repatriado cerca de R$ 25 bilhões em 2008, já trouxeram de volta R$ 17 bilhões neste ano. E podem trazer mais US$ 12 bilhões apenas com as ofertas de ações que serão feitas até o final do ano - são os chamados IPOs e os repetecos, ou follow on. Há pelo menos uma dúzia de empresas preparando-se para conquistar investidores na bolsa. Também no mercado de capitais há um cenário diferente do de outras ondas de IPOs. Desta vez, a maior parte dos recursos levantados nas aberturas de capital, em vez de apenas gerar fortunas para os que venderam parte de suas empresas ao público, será aplicada em projetos de expansão das próprias empresas. E, na esteira deles, vislumbram-se mais empregos, mais consumo, mais crescimento.

"É hora de investir"
Em entrevista à DINHEIRO, Henrique Meirelles disse que o selo concedido pela Moody's trará mais investimentos e mais dólares ao País.

DINHEIRO - O que significa uma terceira nota positiva para o Brasil?
MEIRELLES - 
O investment grade representa que o País saiu mais rápido e mais forte da crise. Recebemos um selo de qualidade que não foi dado a nenhum outro país neste momento. Isso significa que pode haver a melhora na qualidade do volume de investimentos no Brasil, embora seja em médio e longo prazo.

DINHEIRO - Isso já se materializou na previsão da elevação do investimento financeiro de US$ 3 bilhões para US$ 22 bilhões este ano? 
MEIRELLES -
 Essa revisão foi feita com base no processo pelo qual o Brasil já vem passando. O mais importante são as ofertas iniciais de ações e a colocação de títulos nacionais no mercado internacional. Em resumo, o País está voltando a crescer e as empresas precisam investir.

DINHEIRO - A entrada de dólares não vai gerar uma desvalorização cambial? 
MEIRELLES -
 Não. O câmbio é flutuante. O Banco Central tem uma política de acumulação de reservas e não vemos razões para que isso possa influenciar em médio prazo a tendência da taxa de câmbio.

DINHEIRO - O BC continuará a comprar dólares? 
MEIRELLES -
 Se há excesso, vamos comprar. Se há falta, vamos vender. Não há motivos para mudar isso.

DINHEIRO - Como vê o País no futuro? 
MEIRELLES -
 Estamos numa trajetória de crescimento sustentável. O Brasil está com a economia equilibrada e tem todas as condições de crescer a taxas altas na próxima década.

 

Em média, investidores estrangeiros abocanham 70% das emissões. Não é por acaso que, na semana passada, somente o Bradesco tinha 18 executivos acompanhando algumas empresas em road shows (apresentações a investidores potenciais) em Nova York, Boston, Chicago, Londres, Genebra e Madri. Nomes como Banco Santander Brasil, Cetip, Gol, Tivit, Rossi, PDG Realty, Iguatemi, Multiplan, CCR e Marfrig, entre outros, entraram na fila da BM&FBovespa e têm sido "vendidos" no Exterior pelos banqueiros de investimento. Outros, como Oi, JBS-Friboi, Banco do Brasil e Samarco Mineração seguem a trilha de Votorantim, CSN, Bradesco e Banco Cruzeiro do Sul e preparamse para emitir títulos de dívida, que podem chegar a mais de US$ 3 bilhões. As empresas buscam dólares para financiar planos de expansão, melhorar a estrutura de capital, alongar dívidas e baixar o custo dos empréstimos. A hora é agora. "O País está voltando a crescer e as empresas precisam investir", afirma Henrique Meirelles. No dia seguinte ao anúncio da Moody's, o BC ampliou a previsão oficial de ingresso de recursos externos em 2009 de US$ 3 bilhões para US$ 22 bilhões. E Meirelles destaca o fato de a agência ter colocado a classificação do Brasil em observação positiva - num sinal de que ela ainda pode melhorar. "O Brasil provou que foi capaz de absorver impactos ao longo desta crise", afirmou Mauro Leos, vice-presidente de avaliação de risco da Moody's.

De todas as ofertas de ações já anunciadas, a mais vistosa e emblemática é a do Santander, principal banco da Espanha e um dos maiores do mundo, que estreia na bolsa brasileira. O banqueiro Emilio Botín quer captar até R$ 15,6 bilhões com a emissão de ações da filial brasileira, na provável maior venda de ações do mundo em 2009. O dinheiro arrecadado aqui fica aqui. A ideia é reforçar o patrimônio local e alavancar a capacidade de empréstimos do terceiro maior banco privado no País, aumentando seu cacife para brigar pela segunda posição com o Bradesco. Se o plano der certo, os gigantes Itaú Unibanco e Banco do Brasil também sentirão o bafo do touro espanhol. Estima-se que o Santander irá aumentar em pelo menos R$ 80 bilhões a sua capacidade de oferta de crédito, elevando-a para R$ 150 bilhões. Botín esteve no Brasil na semana passada e, como sempre, foi discreto na visita. Seu discurso, no entanto, não mudou. Ele continua acreditando no potencial de crescimento do mercado interno brasileiro, responsável por mais de 20% dos resultados do grupo, e está ávido pelos bons negócios da região. A melhoria no aspecto de solvência do Brasil na última década é o grande responsável pela conquista de confiança do País. "Quando o risco diminui, aumenta o número de interessados dispostos a colocar o dinheiro no Brasil", diz André Loes, economistachefe do HSBC.

A avalanche de dólares, evidentemente, é um fenômeno positivo, que ajuda a manter a inflação baixa e contribui para o crescimento econômico - a tal ponto que mesmo economistas alinhados à oposição, como Luiz Carlos Mendonça de Barros, já preveem um crescimento de 6% da economia brasileira em 2010, puxado pelo mercado interno. Barbedo, do Bradesco, aposta num ciclo de expansão que irá durar pelo menos dez anos, com o Brasil rodando entre 4% e 5%. O único efeito colateral é a pressão na taxa de câmbio, o que preocupa industriais e exportadores - na quinta- feira 24, o dólar fechou cotado a R$ 1,80 e foi uma das moedas que mais se apreciaram em 2009, com valorização de quase 30%. E, neste ponto, já há uma divisão no governo. Luciano Coutinho, presidente do BNDES, defende uma intervenção mais explícita no câmbio. Meirelles argumenta em favor do regime flutuante, mas sinalizou, na entrevista que concedeu à DINHEIRO, que o BC está disposto a aumentar suas reservas internacionais, de quase US$ 210 bilhões.


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O que se percebe, apenas um ano depois da quebra do Lehman Brothers e da crise que abalou as estruturas da economia global, é que o Brasil está saindo mais forte do que entrou. Embora já tivesse recebido o grau de investimento de outras duas agências de risco - a Standard & Poor's e a Fitch Ratings - o da Moody's, embora tardio, teve valor porque foi o único concedido em plena turbulência financeira, consolidando a imagem do Brasil como "vencedor" da crise. Além disso, aconteceu num período em que as autoridades econômicas foram forçadas a adotar políticas anticíclicas, o que comprometeu os resultados fiscais. "Esse ainda é nosso calcanhar de aquiles", diz a economista Zeina Latif, do ING. De todo modo, a resistência do País à crise também comprovou a força do mercado de trabalho e da demanda doméstica, dois pontos que serão fundamentais, em outros países, para a retomada da economia mundial. "A redução da taxa de desemprego, o aumento da massa salarial e o crescimento no poder de consumo mostram um Brasil com pilares sólidos na comparação com o resto do mundo", afirma Ricardo Denadai, economista sênior do Santander Asset Management. Esses fatores podem fazer com que o Brasil reconquiste uma posição que já teve na década de 70, quando atraía 7% dos investimentos diretos globais. No ano passado, o País recebeu US$ 45 bilhões, segundo a Unctad, órgão das Nações Unidas para o comércio, o que significou uma participação de 2,5% no bolo mundial. "A tendência é o Brasil ganhar mais participação, pois nossas bases hoje são muito mais sólidas", diz Latif. A corrida pelos dólares, como se vê, já começou.

Colaboraram Ana Clara Costa, Gustavo Gantois, 
Hugo Cilo, Luciana de Oliveira e Márcio Kroehn

Fonte: ISTOÉ Dinheiro
Autor: Milton Gamez e Leonardo Attuch
Revisão e edição: de responsabilidade da fonte

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