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A costa dos investimentos
   
     
 


26/09/2009

A costa dos investimentos
Mais de R$ 1 bilhão foi injetado na área de turismo de luxo do litoral sul da Bahia e faz da região o novo pólo de negócios imobiliários do País
 

 

Gastos compartilhados 
No resort particular Jacumã Ocean, os seis sócios dividem as despesas de R$ 1,5 milhão por ano na manutenção do local

Um jantar realizado no restaurante Brasil A Gosto, em São Paulo, reuniu recentemente pessoas tão díspares quanto o publicitário Nizan Guanaes, o jogador de futebol Ronaldo Fenômeno, a empresária Lucília Diniz e o presidente da Nestlé no Brasil, Ivan Zurita.

Em comum, os presentes tinham o mesmo desejo: construir um imóvel dos sonhos no litoral sul da Bahia, famosa por suas praias desertas, coqueirais de se perder de vista e sol o ano inteiro. A noite foi encerrada com uma celebração.

Onze pessoas presentes ao evento - inclusive os quatro citados anteriormente - concordaram em desembolsar R$ 3,7 milhões para comprar, em sociedade, um lote num futuro condomínio de luxo que será construído na praia de Itapororoca. Na mesa do restaurante, ficou acertado que o grupo repartiria os custos de construção e a manutenção das luxuosas áreas de lazer.

Campo de golfe 
Carlos Régis Bittencourt investiu com o sócio R$ 50 milhões no TerraVista, que possui um dos melhores campos de golfe do País

Investimentos como esse estão transformando o litoral sul da Bahia num dos maiores pólos de negócios turísticos do Brasil.

A região, conhecida como "Costa do Descobrimento", vem atraindo um número cada vez maior de pessoas com elevado poder aquisitivo.

"O local recebeu R$ 1 bilhão de investimentos imobiliários nos últimos cinco anos, em resorts, segunda moradia e hotéis de luxo", afirma Loredano Júnior, advogado da maioria dos investidores da região.

A extensão de 32 quilômetros de praias que formam a Costa do Descobrimento começa em Porto Seguro, passa por Arraial D'Ajuda, serpenteia por Trancoso, Jacumã e Praia dos Espelhos, antes de terminar em Caraíva. À exceção de Porto Seguro, dominada pelo turismo popular e com um número excessivo de hotéis de todas as classes, as outras localidades recebem poucos visitantes.

Por isso, a paisagem resiste praticamente intacta. Um sobrevoo de helicóptero revela o índice de preservação. Do alto é possível observar o mar de águas transparentes, falésias e florestas verdes. E, claro, mansões cinematográficas, algumas erguidas ao custo de mais de R$ 6 milhões.

Poucos lugares no Brasil passaram por uma valorização imobiliária tão vertiginosa. Há uma década, quando os ricos não tinham descoberto a região, os terrenos eram vendidos por valores irrisórios. De acordo com o último levantamento, hoje o metro quadrado de uma área perto do mar custa R$ 600.

É o mesmo preço cobrado pelo metro quadrado comercial no Shopping Iguatemi em São Paulo - o mais caro da América Latina. Se você quiser investir, é melhor ter pressa: o preço tem dobrado a cada ano. Os valores sobem numa velocidade tão grande que levou os proprietários a uma situação curiosa. Quem vende um imóvel sabe que está perdendo dinheiro. Afinal, ele tende a se valorizar muito num curto espaço de tempo.

Campo para polo 
Michele D'Ippolito, um dos sócios do Outeiro das Brisas, investe R$ 7 milhões por ano em seu condomínio, que tem campo para polo e aeroporto

Em uma região com preços nesses níveis, não se veem nas praias quiosques, molecada jogando futebol, nuvens de guarda-sóis nas areias. No lugar disso tudo, esportes de elite como o golfe. Um dos maiores campos do Brasil fica no condomínio Terravista, em Trancoso.

"Nossos melhores terrenos estão dentro da área de golfe", afirma Carlos Eduardo Régis Bittencourt, o Calé, um dos sócios do empreendimento. Calé chegou em Trancoso aos 20 anos. Ele havia largado a faculdade e a agitada vida em São Paulo para se isolar em Trancoso, que, na época, tinha 400 habitantes. Hoje, aos 55 anos, Calé é um dos maiores investidores de imóveis da costa.

"Defendo o turismo voltado para poucos e bons hóspedes, porque é uma maneira de garantir o desenvolvimento local e a preservação das praias", diz. Em 2000, ele e o sócio Michael Rumpf-Gail investiram mais de R$ 50 milhões na construção do Terravista, primeiro grande empreendimento da região.

Três anos depois, foi erguido, dentro do próprio Terravista, o Club Med, bandeira francesa de hotéis. A demanda estimulou Calé a investir na construção de um hotel com 40 suítes de 90 metros quadrados e serviços de luxo como spa e restaurantes de alta gastronomia.

Ainda sem bandeira definida, o hotel receberá investimentos de R$ 20 milhões, com previsão de inauguração para o início de 2010. Para a maioria dos empresários que atuam na região, a crise recente não provocou nenhum efeito em seus negócios. A ampliação dos investimentos é visível em todas as praias da costa sul.

Um dos mais vultosos se dá no condomínio hoteleiro na praia de Itapororoca, uma parceria entre a brasileira Itacaré Capital e a Bahia Beat, grupo de investidores suecos. Mais de R$ 100 milhões serão investidos no empreendimento que abrigará casas de veraneio de luxo e terá como bandeira a rede hoteleira do Grupo Fazzano.

Muitos estrangeiros injetam fortunas na região. Na praia de Taipe será construído pelo grupo espanhol Single Home um condomínio de casas de luxo. Apenas a compra do terreno do imóvel consumiu R$ 40 milhões.

Lucros em TrancosoFranco (de preto) abriu uma filial de seu restaurante português na Bahia. O negócio cresce 15% ao ano

A praia de Trancoso é o destino preferido dos empresários que investem no litoral sul baiano. Lá ficam os restaurantes mais charmosos, as pousadas de arquitetura ousada e serviço exclusivo. O principal símbolo da vila fica no alto de uma falésia. É a Praça São João, mais conhecida como Quadrado (na verdade um retângulo).

Ali não circulam carros e os casebres coloridos disputam a atenção dos turistas com a venda de objetos de decoração e roupas de grife. É nesse espaço cobiçado que o italiano Wilbert Das, diretor de criação da italiana Diesel, um das marcas de jeans mais luxuosas do mundo, abriu o Uxua Casa Hotel, um hotel de nove casas, de 90 a 240 metros quadrados, todas com suítes, cozinha e sala de estar.

A construção e a decoração do local, de estilo rústico-chique, priorizaram artigos nativos. O telhado é feito de piaçaba trançada e os chuveiros são de tronco de eucalipto. A área comum conta com uma piscina de pedras de cascalho e bancos de madeira.

Com esses atrativos, os hóspedes não se importam de pagar até R$ 1,3 mil por uma casa de luxo em alta temporada. O empreendimento é um sucesso. Dois meses após a inauguração, todos os pacotes de fim de ano estavam vendidos. O preço? A casa de padrão mais elevado, para até seis pessoas, custa R$ 73 mil para um período de dez dias.

"Aqui as pessoas buscam essencialmente o luxo", afirma André Georges Lattari, gerente-geral do Uxua. Um pouco mais em conta, mas ainda com preços acessíveis apenas para os ricos, a pousada do Jacaré, de Fernando Droghetti, cobra R$ 15 mil nos pacotes de fim de ano para os casais.

O empresário vendeu sua badalada loja de decoração da capital paulista, a Jacaré do Brasil, para investir R$ 500 mil em seu hotel em Trancoso.

Também baseado no conceito casa-hotel, a pousada tem piscina com fundo infinito e bangalô para massagens. "Ninguém aqui pode reclamar, pois qualquer negócio, desde que luxuoso, costuma dar certo", afirma o português Nuno Fernando Franco, dono do restaurante internacional El Gordo, aberto em 2001.

Franco tem outras três casas em Lisboa, sua terra natal, e decidiu abrir uma filial brasileira depois de passar férias na região - como ele, centenas, talvez milhares de europeus façam isso no Nordeste brasileiro.

O curioso é que a sofisticação dos imóveis e serviços não foi acompanhada pelo desenvolvimento da infraestrutura local. Todas as praias da costa, a partir de Trancoso, são ligadas por estradas de terra esburacadas.

Para muitos investidores da região, elas ajudam a dar charme ao sul da Bahia e contribuem para a sua preservação. Uma das maneiras mais comuns de deslocamento é por via área. Há duas pistas de pouso para aviões particulares, uma dentro do condomínio Terra Vista, em Trancoso, e outra no Outeiro das Brisas, na praia de Outeiros.

Luxo para poucos 
André Lattari (acima), do Uxua Hotel, e Fernando Droghetti (à esq.), da Jacaré Casas, estão com os pacotes de fim de ano lotados. No Uxua, a estadia de dez dias custa R$ 73 mil

Outra opção ainda é o aeroporto internacional de Porto Seguro, que facilita o acesso dos brasileiros que saem de todas as grandes capitais.

"É comum, em feriados, os paulistanos levarem menos tempo de avião até aqui do que de carro até Maresias, no litoral norte de São Paulo", diz Michele Roberto D'Ippolito, filho de um dos primeiros investidores da região.

O empresário é sócio do Outeiro das Brisas, um dos condomínios mais tradicionais do sul baiano, localizado na praia de Outeiros. Ali, os hóspedes podem escolher entre ficar em um dos 25 bangalôs de frente para o mar ou construir uma casa de até mil metros quadrados como segunda moradia.

Os preços dos imóveis chegam a R$ 5 milhões. "A cada ano,dez novas residências são construídas aqui", afirma D'Ippolito. Inaugurado no início da década de 90, o condomínio oferece inúmeras mordomias aos hóspedes, como um campo de polo a cavalo. Em breve, a área de lazer contará com um campo de golfe de nove buracos. "Todos os anos, investimos R$ 7 milhões em ampliações", diz o empresário.

A nova tendência da região é o investimento conjunto de familiares ou amigos. Exemplo disso é o Jacumã Ocean Resort, que pertence a seis empresários brasileiros.

Entre eles, Berardino Fanganillo, dono da GP Segurança Patrimonial, e Marcelo Mattoso de Almeida, sócio da incorporadora The First Class Group. Apenas em infraestrutura, os empresários já investiram R$ 7 milhões. Cada um deles tem um número de lotes e as despesas são compartilhadas.

Os custos de manutenção e pagamento dos 50 funcionários da fazenda custam mensalmente R$ 120 mil. Para fazer parte desse clube privado, só com a aprovação de todos os outros sócios. Um luxo só.

Onde estão os estrangeiros?

Trancoso, no litoral sul da Bahia, ou Bora-Bora, na Polinésia Francesa? Para a suíça Débora Senn Mohanathas, 29 anos, e seu marido indiano, Mani Mohanathas, 31, a resposta é fácil: Trancoso, sem dúvida.

Os dois são executivos do banco UBS na Suíça e escolheram passar os dias de recém-casados no Brasil porque aqui encontraram não apenas preços menores mas, principalmente, porque as praias nordestinas são mais bonitas. "Achamos que esse lugar seria realmente inesquecível", afirma Débora. Segundo ela, o Nordeste brasileiro será sempre lembrado.

Um dos grandes desafios do turismo no País é trazer mais turistas como o casal acima. Não é uma tarefa fácil. Apesar da costa com 8 mil quilômetros e mais de duas mil praias, da Floresta Amazônica e do Pantanal, o Brasil é um desastre na capacidade de atrair visitantes estrangeiros.

Em 2008, 5 milhões de turistas do Exterior desembarcaram no Brasil, mesmo número de 2007. Na França, país que recebe maior fluxo de estrangeiros, o total de turistas de outras nações atingiu a marca recorde de 81,9 milhões de pessoas em 2008. O Brasil dá vexame até na comparação com a gélida Ucrânia (23 milhões de estrangeiros), que tem entre suas atrações a usina nuclear de Chernobyl.

Fonte: ISTOÉ Dinheiro
Autor: Tatiana Vaz
Revisão e edição: de responsabilidade da fonte

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