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Conselho Administrativo de Defesa Econômica
   
     
 


29/09/2009

Conselho Administrativo de Defesa Econômica
Senado fica mais rigoroso nas escolhas para o Cade

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará nos próximos dias a sua 24ª indicação para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça. Caso o nome seja aprovado pelo Senado, Lula conseguirá indicar o equivalente a três "Cades". Se, com relação ao Supremo Tribunal Federal (STF), Lula recebe críticas por ter indicado oito ministros e ter a maioria de sete entre as 11 cadeiras existentes no Cade, Lula já nomeou dois presidentes diferentes e trocou as seis vagas de conselheiros três vezes cada uma.

Ao contrário do Supremo que é um "tribunal político", voltado para decidir as grandes questões nacionais, o Cade é visto como um "colégio de doutores" que discutem teses acadêmicas e procuram aliar o conhecimento econômico à lei ao julgar fusões, aquisições e cartéis. Por esse motivo, para o Cade, a regra geral tanto no governo Lula quanto na gestão Fernando Henrique Cardoso, é a de que as indicações deveriam ser de professores e pesquisadores com vasto currículo acadêmico e acima de qualquer questão partidária.

O atual decano do Cade, conselheiro Fernando Furlan, é um dos maiores exemplos dessa regra. Ele possui doutorado na Sorbonne e estudos nas prestigiadas universidades de Harvard, Georgetown e Michigan. Com esse currículo, Furlan foi indicado por dois presidentes diferentes para o Cade. FHC indicou-o para procurador-geral e Lula nomeou-o conselheiro.

Outro exemplo dessa regra é o conselheiro Cézar Mattos. Doutor em economia, com passagens pelas universidades de Oxford e Berkeley, Mattos trabalhou no Cade como assessor, durante os anos FHC, e, no ano passado, foi nomeado conselheiro por Lula.

O problema para Lula é que, na medida em que o "colegiado de doutores" aumentou o rigor com grandes empresas, elas passaram a reclamar cada vez com os senadores. Até o veto à compra da Garoto pela Nestlé, em 2004, a sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado era vista como um procedimento meramente formal. A aprovação era questão de tempo. O Cade, até aquele ano, tinha condenado alguns cartéis e imposto condições a poucas fusões. Mas, a partir daquele ano, as restrições a grandes aquisições passaram a ser mais constantes e o combate aos cartéis aumentou consideravelmente.

Em agosto de 2005, o Cade impôs à Vale a venda da Ferteco ou o fim do direito de preferência para a compra de minério da mina Casa de Pedra, da CSN. Esse julgamento provocou forte descontentamento na Vale, que foi até o STF na tentativa de reverter a decisão e, ao fim, perdeu a causa.

Neste ano, o Cade deu novos sinais de rigor. Em 22 de julho, o órgão aplicou multa de R$ 352 milhões à AmBev por causa de um programa de fidelização de pontos de venda da companhia. Na semana seguinte, a Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça ingressou com ações contra a Oi e a Claro pedindo respectivos R$ 295 milhões e R$ 301 milhões por causa de problemas constantes dessas empresas com o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC). A SDE também abriu investigações em diversos setores da economia, como chocolates, bebidas, construção civil e aviação. O Cade vai julgar esses processos e essa atuação, encarada internamente como a aplicação rigorosa da lei antitruste, leva advogados e empresários a se queixar com os senadores. Como resultado, os senadores passaram a questionar mais os indicados.

No Senado, os votos contrários aos indicados para o Cade tornaram-se mais constantes e não há mais garantia de aprovação dos nomes levados pelo presidente. Isso ficou claro na última vez em que o Legislativo votou um nome para o Cade. Em 26 de agosto, o plenário do Senado aprovou a indicação do procurador-geral do órgão antitruste, Gilvandro Araújo, por margem apertada de votos nunca antes registrada. Foram 29 votos a favor e 24 contrários. Araújo é bastante ligado ao presidente do Cade, Arthur Badin, e ocupa uma posição estratégica no órgão. Cabe ao procurador-geral fazer a defesa na Justiça das decisões antitruste. Como todas as empresas que sofrem reveses no Cade recorrem ao Judiciário, Araújo tornou-se o responsável pela aplicação na prática das decisões antitruste. Isso pesou contra ele no Senado, pois as empresas derrotadas no Cade são grandes companhias com representantes que mantêm diálogo constante com senadores.

Para se ter uma ideia de como o Senado está marcando o Cade, no mesmo dia em que Araújo foi votado, o plenário analisou a recondução de um diretor da Agência Nacional de Águas, Dalvino Trocolli. O diretor da ANA obteve 35 votos favoráveis e apenas 17 contrários: uma diferença de 18 votos.

O próprio Badin enfrentou resistências no Senado. Quando foi reconduzido para o comando da Procuradoria, em 2007, ele teve 13 votos contrários. Em junho do ano seguinte, Badin foi indicado para a Presidência do Cade e esperou dois meses para ser sabatinado na CAE. Lá, conseguiu unanimidade: 21 votos a favor. Mas a votação de seu nome no plenário só ocorreu em novembro, com 27 votos a favor e 16 contrários.

Como ocorreu com Badin, todos os indicados são duramente questionados pelos senadores a respeito de fusões e aquisições específicas, como os casos Oi-BrT, Nestlé-Garoto, Sadia-Perdigão e as denúncias de cartel contra indústrias de sucos de laranja.

A expectativa é a de que Lula opte por um nome técnico, capaz de contornar essas resistências. O novo indicado deverá vir da SDE ou da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda. A SDE e a Seae são os dois órgãos que instruem os processos antitruste antes de o Cade julgá-los. É provável que a vaga seja de um economista, pois o Cade convive tradicionalmente com um equilíbrio entre economistas e advogados e, atualmente, a balança está pesando mais para os últimos. Dos seis integrantes do Cade, só um é economista: César Mattos.

Até aqui, das 23 indicações feitas em seis anos e meio de governo, Lula conseguiu emplacar 20 nomes no Cade. Por razões diferentes, três delas não se confirmaram.

A primeira foi em 2004, depois de o órgão antitruste vetar a compra da Garoto pela Nestlé. Na época, o então conselheiro Cleveland Prates Teixeira foi reconduzido por Lula para um novo mandato de dois anos no Cade. Ele foi aprovado na CAE, mas o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), preferiu não arriscar a votação do nome de Teixeira no plenário por causa das queixas ao caso Nestlé e ele acabou desistindo do cargo.

A segunda indicação que não se confirmou foi a de Denise Abreu, que ficou conhecida por sua atuação polêmica na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), de onde saiu, durante o apagão aéreo, sem concluir o seu mandato. Em 2005, antes de integrar a Anac, Denise foi indicada para o Cade com forte apoio do então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Logo após a indicação, o nome de Denise foi retirado e ela nem chegou a ser sabatinada.

A terceira indicação que não se confirmou foi a do economista Enéas de Souza. Ele é muito próximo do ministro da Justiça, Tarso Genro, e foi indicado em 2008. Ele foi sabatinado pela CAE e aprovado pelo Senado, mas não quis tomar posse.

Agora, Lula espera confirmar a sua 21ª nomeação para preencher a vaga deixada pelo economista Paulo Furquim, que renunciou ao Cade no dia 16. Para que o novo nome seja confirmado, há um caminho a ser percorrido: indicação pelo presidente, sabatina na CAE, aprovação no Senado, nomeação pelo presidente e, por fim, a posse.

Badin pede mandatos mais longos

O novo indicado para o o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) perderá o privilégio de herdar os principais casos de fusões e aquisições realizadas no país, como as compras da Brasil Telecom pela Oi, da Sadia pela Perdigão, do Unibanco pelo Itaú e do Ponto Frio pelo Pão de Açúcar. Todos esses casos estavam sob a relatoria de Paulo Furquim, que renunciou ao cargo, e seriam repassados ao seu substituto. Mas o Cade vai esperar 30 dias da renúncia de Furquim para redistribui-los entre os seis conselheiros. Essa solução já foi acordada com o presidente Lula para evitar maiores desgastes na sabatina.

Além disso, o novo indicado só vai assumir em janeiro, quando vence o mandato de Furquim. Isso porque se assumir antes de janeiro, ele teria um "mandato tampão" para cumprir que seria encerrado naquele mês. Por causa disso, o presidente Lula decidiu que vai indicar um novo conselheiro agora, mas só vai nomeá-lo em janeiro para garantir um mandato inteiro de dois anos ao futuro conselheiro.

Para o presidente do Cade, Arthur Sanchez Badin, o mandato dos conselheiros deveria ser mais longo, o que evitaria as constantes trocas de nomes no plenário do principal órgão antitruste brasileiro. Badin acha que, o atual mandato de dois anos, com recondução de mais dois, deveria ser trocado por um mandato único de quatro anos. "O fato de o mandato ser curto sempre causa surpresa em congressos internacionais. Não é um problema de fato. Mas seria melhor se fosse de quatro anos", afirmou Badin. O novo mandato de quatro anos está previsto no projeto de lei que cria o novo Cade, em tramitação no Senado.

Para Badin, a grande rotatividade de conselheiros, com as 20 nomeações de Lula, não prejudicou o Cade. "O Cade soube manter um padrão em sua jurisprudência. Conferir previsibilidade na aplicação da lei é importante, pois estamos lidando com mercado", asseverou.

Especialistas em direito da concorrência também acreditam que, por ser um "colégio de doutores", o Cade consegue manter a sua jurisprudência, mesmo com a constante alternância de seus conselheiros. Para Pedro Dutra, as indicações para o órgão antitruste têm sido técnicas, "o que deveria ser estendido a todas as agências reguladoras". "Essas indicações devem ser feitas para bem servir o interesse público, e não para bem servir o Poder Executivo", apontou Dutra.

"Raramente, vemos tendências políticas nas indicações", completou o advogado José Inácio Gonzaga Franceschini, que atua no Cade desde 1973, quando o órgão antitruste funcionava no prédio de número 50, na rua Nilo Peçanha, no Rio de Janeiro. "O Cade sempre teve a característica de preservar a sua independência", disse Franceschini.

Antes de Lula, o então presidente Fernando Henrique Cardoso indicou dois presidentes para o Cade: o economista Gesner Oliveira e o advogado e desembargador aposentado João Grandino Rodas, hoje, diretor da Faculdade de Direito da USP e candidato a reitor daquela universidade. Além disso, completou o plenário com uma sucessão de mais de 21 nomeações - número superior a três plenários. A lista de FHC inclui economistas, como Lúcia Helena Salgado, do Ipea, Arthur Barrionuevo, da FGV-SP, Thompson Andrade, da FGV-RJ, e advogados, como João Bosco Leopoldino, Marcelo Calliari e Celso Campilongo.

Fonte: Valor Econômico
Autor: Juliano Basile, de Brasília
Revisão e edição: de responsabilidade da fonte

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